quinta-feira, 20 de novembro de 2008

O Doente


“Quando se enfrenta a debilidade do homem e não a sua força, vai-se ao encontro do que há de mais íntimo e perturbador no ser humano e, daí, que o êxito ou fracasso no relacionamento dependa das nossas capacidades para encararmos o sofrimento humano.”



Começo por dizer que utilizo constantemente a palavra “doente”, apesar de saber que provavelmente não é a forma mais indicada de me referir à pessoa, principalmente devido às implicações para o próprio doente. Tenho ouvido vários termos na tentativa esforçada de substituir a palavra “doente”. Contudo, ainda não encontrei alternativas satisfatórias: pessoa doente, pessoa hospitalizada, utente, paciente ou ainda cliente (sinto-me especialmente renitente em relação a esta última). O que na realidade acabo por fazer é adaptar o vocabulário à situação e utilizar a palavra ou expressão que me parece mais apropriada em cada caso (se é que isto é possível).

Muitas vezes, na profissão de Enfermagem, esquece-se algo muito importante e que é o centro das nossas intervenções - o Doente. Pode parecer estranho dizer que “esquecemos” o doente. O que pretendo dizer com isto é que damos por nós muitas vezes a fazer tudo de uma forma tão mecânica que nem pensamos realmente naquilo que o doente deseja, pensa ou sente. Isto é algo que tento a todo o custo evitar de fazer, pois é o primeiro passo para nos tornarmos os chamados “enfermeiros frios”. Penso que saber cuidar da pessoa é, primeiro que tudo, colocar-me na posição do outro, pois só assim podemos prestar cuidados de qualidade. Como diz um autor que aprecio, “tentar olhar com os olhos do outro, tentar pensar com a cabeça do outro e tentar sentir com o coração do outro, abre-nos novas perspectivas relacionais, através da empatia”.

Para o doente, o internamento desencadeia uma crise emocional porque se encontra num ambiente estranho, quantas vezes de sofrimento, rodeado de pessoas que não conhece, recebendo “visitas” das pessoas com quem convive diariamente e perdendo, por vezes, a sua privacidade. A minha curta, mas proveitosa, experiência fez-me perceber que cuidamos realmente do doente quando conseguimos fazer com que ele se sinta praticamente “em casa” e isto é muito difícil de fazer.

Tendo em conta que o doente é uma pessoa como qualquer um de nós, mas numa situação hospitalar, é normal que tenha a sua própria personalidade durante o internamento. No nosso dia-a-dia lidamos com pessoas muitos diferentes, o que exige de nós uma adaptação que muitas pessoas nem imaginam! Temos que estar preparados para COMPREENDER, independentemente dos nossos valores, dos nossos sentimentos nesse dia, mesmo que tenhamos os nossos próprios problemas… Esta parte nem sempre é fácil, é preciso saber gerir as emoções e colocar em primeiro lugar a razão do nosso trabalho: o doente.