sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Porquê ser Enfermeira?

Não sei bem qual foi o dia exacto em que decidi ser enfermeira… até porque já fiz essa escolha há muito muito tempo… Penso que a pouco e pouco fui percebendo que, acima de tudo, gostaria de trabalhar para e com pessoas e a profissão de enfermagem sempre me cativou pelo seu carácter humano e de certa forma enigmático.

Tenho realizado muitas vezes uma espécie de pequeno balanço onde comparo o dia em que entrei no curso de enfermagem e o momento em que me encontro agora. Tantas experiências que me fizeram realmente crescer… apercebo-me cada vez mais da grande mudança na minha percepção acerca da Enfermagem desde o dia em que escolhi ser enfermeira e o dia de hoje…
As várias (que são ainda poucas) experiências que tenho vindo a viver ensinaram-me a ver para lá dos meus horizontes, a perceber a importância do respeito e da empatia, a sentir na pele a importância de ajudar alguém, a ter os primeiros contactos com aquela que é a profissão que tem como centro de toda a sua existência a pessoa.


Olhando para trás, apesar de desde há muito tempo desejar ser enfermeira, sei que não conhecia totalmente tudo o que isso envolve… Tenho também a plena noção que ser enfermeira mudou vários aspectos da minha personalidade. Isto porque uma das coisas que também aprendi é que esta é uma das poucas profissões em que a nossa personalidade afecta muito o tipo de trabalho que realizamos e vice versa… o que fazemos tem resultados visíveis e imediatos na pessoa doente com que lidamos e o que vivemos no trabalho marca também a nossa forma de ser e pensar…

Ser enfermeira tem ultrapassado as minhas expectativas e, apesar de todas as contrariedades, sinto que fiz a escolha certa e é muito dificil imaginar-me a ser e fazer outra coisa… Tal como canta a Mafalda Veiga, durante todo o meu percurso até aqui “fui aprendendo a procurar por entre os sonhos meus”, que é o que todos tentamos fazer da melhor forma possível. A meu ver, o sentido da vida está em ser o que somos e tornarmo-nos aquilo que somos capazes de ser. A profissão de Enfermagem é uma parte da procura daquilo que considero, para mim, o sentido da vida.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

A minha primeira doente

Vesti a farda (oferecida com tanto carinho pela minha avó) e pensei: “Nem acredito que já cheguei até aqui”… Senti-me ansiosa e, como é natural, com receio do desconhecido.
Reportando-me ao meu primeiro dia de Estágio hospitalar, lembro-me essencialmente de me sentir completamente perdida e de ter ficado responsável por uma senhora idosa, de poucas conversas, que raramente convivia com outros utentes internados ou com os técnicos de saúde. Após várias tentativas de diálogo com a senhora, o resultado era o mesmo: a senhora não falava, não correspondia.
Um dia lembrei-me de lhe perguntar se queria ir até à janela para me mostrar o que conhecia de "P" já que eu pouco ou nada conhecia. Ela disse que também não conhecia muito bem a cidade (não vivia em "P") e então resolvi dizer-lhe eu o que sabia. A partir daí, a senhora pedia-me todos os dias para ir até à janela. Na altura, encarei a situação de forma até um pouco egocêntrica: “consegui que a senhora falasse!”. Mais tarde, pude perceber que não fui propriamente eu, mas sim o tempo que disponibilizei a falar com ela, a atenção e o carinho que lhe dei.

Com a experiência, tornamo-nos mais humildes – na minha opinião, condição essencial para se ser um bom profissional de qualquer área e para se saber trabalhar em equipa, na medida em que toda a verdadeira ajuda começa na humildade. A meu ver, só conseguimos ajudar se adoptarmos uma atitude humilde para com a pessoa que pretendemos ajudar. A ajuda não pode ser dominadora, mas sim um serviço.

A relação de ajuda é algo extraordinário, mas delicado. Compreendi também que, por vezes, a senhora não falou porque preferiu ouvir. Aprendi que devemos respeitar o silêncio das pessoas e, em determinadas situações, nós próprios fazermos silêncio. Saber ouvir, ou melhor, escutar as pessoas é um grande passo para a relação de ajuda.